Remorso póstumo"
(Trad. de Guilherme de Almeida)
Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,
num negro mausoléu de mármore, e não
tiveres por alcova e morada senão
uma fossa profunda e uma tumba chuvosa;
quando a pedra, oprimindo essa carne medrosa
e esses flancos sensuais de morna lassidão,
impedir de querer e arfar teu coração
e teus pés de seguir a trilha aventurosa,
o túmulo que tem um confidente em mim
- porque o túmulo sempre há de entender o poeta -,
na insônia sepulcral dessas noites sem fim,
dir-te-á: "De que serviu, cortesã incompleta,
não ter tido o que em vão choram os mortos sós?"
- E o verme te roerá como um remorso atroz.
...:CHARLES BAUDELAIRE:...
"Na escuridão havia uma mente. A mente estava sozinha na escuridão, porque a escuridão era, em si, quase perfeita solidão. A mente não tinha corpo. Não tinha olhos com os quais ver que não havia nada ao seu redor para ver. Não tinha boca para gritar, e não tinha mãos para se segurar, sem sentido, por libertação. Era pensamento e memória, sozinha, sem ao menos a distração da agonia física."
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Flores do mal
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